MOISÉS NO MONTE DA TRANSFIGURAÇÃO
Uma
suposta “base” para a doutrina imortalista se encontra no Monte da
Transfiguração. Elias e Moisés apareceram vivos a Pedro, Tiago e João.
Mas como pode isso se os mortos só voltam à vida com a ressurreição, com
tudo o que já vimos aqui? É exatamente isso o que vamos descobrir
agora.
Elias – Que Elias apareceu no Monte, isso não apresenta
problema nem contradição alguma, uma vez que Elias não passou pela morte, não
necessitando assim de uma ressurreição. Elias foi transladado vivo: “E, indo
eles caminhando e conversando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo,
os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho” (cf. 2Rs.2:11).
Moisés – Quanto a Moisés, a Bíblia relata a morte dele
(cf. Dt.34:5), como também relata a ressurreição dele (cf. Jd.9; Rm.5:14). E é
exatamente este o ponto em que estudaremos agora: A Ressurreição de Moisés.
A Ressurreição de Moisés – Que Moisés ressuscitou, isso
fica muito claro quando comparamos a cena do Monte com outras passagens bíblicas que elucidam o
fato. Moisés não estava no monte como um “espírito”, pois Pedro propôs
construir três tendas: "Uma para Ti [para Cristo], outra para Moisés, e
outra para Elias” (cf. Mc.17:4). Ora, é inadmissível construir tenda para um
espírito. Pedro viu a pessoa de Jesus, a pessoa de Elias e a pessoa de Moisés.
Se Moisés estivesse como “espírito”, então Pedro
propuseria construir duas tendas, e não três. Moisés não estava como um
espírito, mas em corpo glorificado. Ora, só teremos a glorificação de nossos
corpos com a ressurreição dos mortos (cf. 1Co.15:42-44). Se Moisés estava
glorificado, então ele passou pela ressurreição. A pergunta que fica é: Quando?
E temos mais algumas evidências bíblicas de tal fato? Sim, temos. O momento em
que ele foi ressuscitado está na narração de Judas 9 em que o autor retira o
fato do livro hebraico da “Assunção de Moisés”:
“Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e
disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição
contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda” (cf. Judas 9). Aqui é relatada a
cena em que Miguel briga com Satanás pelo corpo de Moisés. Mas para quê o diabo
iria querer um cadáver?
Evidentemente o que ele queria era o corpo vivo
(ressescitado) de Moisés, porque este havia sido exatamente o primeiro a deixar
o tumulo, em desafio ao seu "imperio de morte" (hb.2:14). Satanás lutava para mantê-lo preso à
sepultura. O real objetivo de Satanás ao se colocar entre Miguel e o corpo de
Moisés, era impedir sua ressurreição, pois o diabo não estaria tão interessado
em um simples cadáver que de nada vale!
Obviamente Miguel ganhou a posse do corpo de Moisés e o
ressuscitou. Para aqueles que teimam em negar a clareza desta passagem dizendo
que Moisés não ressuscitou, e o diabo queria tanto um cadáver, a situação fica
muito mais complicada quando vemos o fato de que tal passagem está narrada no
livro hebreu chamado “A Ascensão de Moisés”. Coincidência? Não! Os judeus
acreditavam na ressurreição de Moisés, e Judas colocou isso como uma verdade ao
escrever este fato inspirado pelo Espírito Santo.
Isso certamente não significa que o livro da ascensão de
Moisés é inspirado, significa apenas que aquele fato – da ressurreição de
Moisés – é uma verdade. Verdade é verdade em qualquer lugar. Os hebreus de sua
época acreditavam plenamente em tal fato, e Judas também acreditava neste fato
(da ressurreição de Moisés) tanto que ele transcreveu para a Bíblia Sagrada a
passagem do livro judaico sobre tal acontecimento.
Ao compararmos com a cena no monte da Transfiguração,
fica claro que Moisés não estava ali como um “espírito desencarnado” enquanto
Moisés e Cristo estavam com corpos glorificados, pois Pedro propôs construir
três tendas, incluindo para Moisés (cf. Mc.17:4). Ora, não se concede edificar
tendas para espíritos imponderáveis, fluídicos e abstratos.
Não, Moisés não era um espírito, mas já estava em corpo
glorificado – havia passado pela ressurreição. Isso explica o porquê de a morte
ser “rompida” em Moisés: “No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés,
mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão o qual
é figura daquele que havia de vir” (cf. Rm.14:5). Como assinala o prof.
Azenilto Brito:
“Porque Moises ressuscitou Paulo fez esta declaração,
mostrando que Moises não estava mais morto. Essa é uma espantosa revelação: ‘No
entanto, a morte reinou desde Adão até MOISÉS’. Notemos o verbo reinar, que
quer dizer, dominar, prevalecer. Ora, depois de Moisés os homens continuaram
morrendo, mas o texto acima nos diz que a morte teve domínio indiscutível sobre
os mortais até MOISÉS. Em outras palavras, até Moisés ninguém se levantou do
túmulo para provar que é possível reviver. Nisso o diabo viu seu império
abalado. Vemos nisso evidência clara da ressurreição de Moisés.”
Quando lemos que Cristo é a “primícia dos que dormem”
(cf. 1Co.15:23), isso não significa que Cristo foi o primeiro a ressuscitar de
todos os tempos de toda a história da humanidade, pois a Bíblia traz um
relatório de várias pessoas que ressuscitaram antes dele (cf. 1 Reis 17:17-24;
2 Reis 4:25-37; Lucas 7:11-15; 8:41-56; Atos 9:36-41; 20:9-11), e não só
fisicamente mas também em glorificação, como é o caso dos que ressuscitaram com
a morte e ressurreição do próprio Cristo conforme descrição de Mateus 27:52-53.
“Primícias" não está no sentido de prioridade, mas
com o símbolo. Está em relação ao molho movido que o sacerdote erguia na festa
dos pães asmos, na dedicação dos primeiros frutos da colheita. Jesus era o
antítipo dos molhos, da mesma maneira tal como como é chamado Cordeiro por ser
antítipo dos cordeiros no ritual dos sacríficos da lei do AT. Isso, obviamente,
não muda o fato de que houve muitos cordeiros sacrificados antes dele.
Como antítipo, Cristo é as primícias dos que dormem.
Vemos vários exemplos disso nas Escrituras, como, por exemplo, em Tiago, que
diz: “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos
como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou” (cf. Tg.1:18). Obviamente
em número nós não somos literalmente a primícia (o primeiro que Ele criou foi
Adão), mas o somos no símbolo.
De igual modo, também lemos no Apocalipse: “Estes são os
que não se contaminaram com mulheres, pois se conservaram castos e seguem o
Cordeiro por onde quer que ele vá. Foram comprados dentre os homens e ofertados
como primícias a Deus e ao Cordeiro” (cf. Ap.14:4). Estes com absoluta certeza
não foram os primeiros a não tocarem em mulher (em toda a história da
humanidade), mas mesmo assim são primícias por causa do símbolo, e não da
prioridade.
De igual modo, Jesus foi o primeiro a ressuscistar no
nosso tempo atual, o “Tempo da Graça”, e tronou-se o símbolo e garantia
(penhor) da nossa própria ressurreição final (cf. 1Ts.4:13). Mas numericamente
houve pessoas ressuscitadas antes deste tempo (cf. Jd.9; Rm.5:14; Mt.27:52,53;
1Rs.17:17-24; 2Rs.4:25-37; Lc.7:11-15; Lc.8:41-56; At.9:36-46; At.20:9).
O fato da ressurreição de Moisés era tão aceitado entre
os hebreus, que Paulo registrava que a morte deixou de reinar em Moisés sem
medo de errar (cf. Rm.5:14), pois todos os hebreus acreditavam nisso, tendo um
livro chamado “A Ascensão de Moisés”. Os hebreus acreditavam que bem como
Moisés passou pela morte, igualmente passou pela ressurreição, motivo este de
ter se apresentado glorificado no Monte da Transfiguração e não como um
“espírito”, como deveria ser, no caso da alegação dos imortalistas estivesse
correta.
E Judas também concordava com isso porque o mencionada em
sua epístola, inspirado pelo Espírito Santo, a narração do mesmo livro da
Ascensão de Moisés, frisando no momento em que Miguel disputava com Cristo acerca
de Moisés (cf. Jd.9) – Judas também acreditava na ressurreição de Moisés! Esse
fato é, portanto, inegável. Quanto a morte ser rompida em Moisés, isso é o
sentido lógico da passagem de Romanos 5:14. Ora, se a morte reinou (i.e,
dominou, prevaleceu) até... Moisés, então é porque em Moisés a morte não
prevaleceu, não reinou.
Ora, se Moisés tivesse continuado como um morto no pó da
terra, então a morte teria prevalecido também sobre Moisés e passada
"ilesa" sem nenhum problema. É evidente que o império da Morte se viu
abalado rompendo-se em Moisés porque este foi o primeiro a ser ressuscitado
dentre os mortos, e sendo assim, a morte deixou de reinar em Moisés (cf.
Rm.5:14). Os hebreus acreditavam em uma natureza holista do ser humano, isto é,
ele não "tem" uma alma, ele é uma alma (cf. Gn.2:7). Uma alma vivente
significa simplesmente um “ser vivo”, que morre.
Uma vez que todos os mortos permaneciam sem vida, a morte
continuava reinando. Logo, ao diabo disputar o corpo de Moisés o que ele queria
era mantê-lo preso a sepultura onde ele estava em estado de inconsciência (cf.
Ec.9:5,6; Ec.9:10; Sl.146:4; Sl.6:5;Jó 7:21; Sl.94:7), quando ele despertaria
para entrar na vida ou na condenação (cf. Jo.5:28,29), tal fato que só se daria
no último dia (cf. Jo.6:39). É evidente que os demais mortos só ressuscitarão
neste último dia, motivo este da morte se ver derrotada em função da
ressurreição dos mortos (cf. 1Co.15:51-55).
Em outras palavras, o diabo, o mantendo preso a sepultura
(o corpo que representa o próprio Moisés em pessoa porque a natureza humana é
holista e não dualista) impediria assim a sua ressurreição, pois Moisés
continuaria como um morto. Mas é evidente que Miguel ganhou a batalha, e Moisés
deixou de ser um morto na sepultura, é por isso que Paulo escreve aos Romanos
(cf. 5:14) que a morte deixou de reinar em Moisés.
Conosco, a morte só será vencida por ocasião da
ressurreição, no último dia (cf. Jo.6:39,40; 1Co.15:25,26; 1Co.15:54,55),
quando “tragada foi a morte pela vitória” (cf. 1Co.15:51-54). Quando a morte
conosco é “tragada”? Na ressurreição. Com Moisés, porém, a morte deixou de
reinar antes (cf. Rm.5:14). Por que? Porque ele ressuscitou antes (cf. Jd.9).
Agora, você poderia me perguntar: Mas porque Cristo queria ressuscitar Moisés?
Provavelmente, para que este aparecesse no Monte da Transfiguração, pois Elias
representava os profetas e Moisés o Pentateuco (a Lei).
Para isso ele devia ser ressuscitado, e assim o fez. É
claro que Satanás não gostaria de ver o seu domínio de morte abalado, é por isso
que ele quis brigar para impedir a ressurreição de Moisés, sem sucesso. A
Bíblia nos apresenta apenas duas únicas alternativas para deixamos de estar no
estado de morte (i.e, sem vida). São essas:
(1) Passar pela ressurreição (ser vivificado – Co.15:22,23)
(2) Não passar pela morte (ser transladado vivo como nos casos de Elias
e Enoque)
Sem passar pela ressurreição não há vida (cf.
1Co.15:18,19; 1Co.15:32), e é evidente que nós seremos ressuscitados na volta
de Cristo (cf. 1Ts.4:16; 1Co.15:22,23). A cena da transfiguração do monte não
era uma sessão espírita e muito menos uma contradição bíblica. Pelo o
contrário, das duas únicas pessoas que apareceram com Cristo no monte, uma não
passou pela morte e a outra passou pela ressurreição. Interessante seria se
víssemos um “espírito” baixando no Monte...
O erudito bíblico Adam Clarke colocou perfeitamente em
suas palavras aquilo que aconteceu no Monte da Transfiguração, sem fazer
absolutamente nenhuma acepção a doutrina de imortalidade neste contexto:
"Elias veio do Céu no mesmo corpo com que deixou a
Terra, pois fora trasladado, e não viu a morte. (II Reis 2:11). E o corpo de
Moisés fora provavelmente ressuscitado, como sinal ou penhor da ressurreição; e
como Cristo está para vir a julgar os vivos e os mortos--porque nem todos
morreremos, mas todos seremos transformados (I Coríntios 15: 51)--Ele
certamente deu plena representação deste fato na pessoa de Moisés, que morrera
e então fora trazido à vida (ou aparecera naquele momento como aparecerá
ressurreto no dia final), e na pessoa de Elias, que nunca provou a morte. Ambos
os corpos (Moisés e Elias) apresentavam a mesma aparência, para mostrar que os
corpos dos santos glorificados são os mesmos, quer a pessoa seja arrebatada
(viva) ou ressuscitada (estando morta)"
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Por: Lucas Banzoli.
Extraído do meu livro ”A LENDA DA IMORTALIDADE DA ALMA”.
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